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sábado, 13 de agosto de 2011

Entrevista do Magnano ao Jornal O Globo

'Sonhei que estávamos classificados para Londres', diz Ruben Magnano, técnico da seleção masculina de basquete

SÃO PAULO - O argentino, que aprendeu a jogar truco em Minas, tem cara séria, é exigente, campeão e há um ano e meio assumiu a missão levar o Brasil aos Jogos de Londres. Em busca de uma das duas vagas em disputa no Pré-Olímpico das Américas, a partir do dia 30, na Argentina, o técnico da seleção masculina de basquete Rubén Magnano mostra confiança mesmo sem os astros da NBA que, aliás, alfineta. Após reclamar da insistência nas questões polêmicas, Magnano adorou falar de futebol.

O que um técnico campeão olímpico (Atenas-2004), o primeiro a bater o Dream Team e vice-campeão mundial (Indianápolis-2002) veio fazer à frente da seleção brasileira?
MAGNANO: Boa pergunta... Tanto o atleta quanto o treinador não devem olhar para trás, para o que já conquistou. Busco desafios. E o Brasil tem uma história importante no basquete.

Qual é exatamente este desafio?
MAGNANO: O primeiro é ir à Olimpíada.

Já garantido nos Jogos do Rio, o Brasil voltará a disputar uma Olimpíada antes de 2016?
MAGNANO: Posso falar que todos nós estamos dando 100% para conquistar esta vaga já em Mar del Plata. Por isso estou confiante. Tranquilo? Nunca!

Vamos precisar do Pré-Olímpico Mundial? Se acontecer, a pressão pode pesar, já que a seleção não vai às Olimpíadas desde 1996?
MAGNANO: Não penso nisso nem um segundo. Vamos ser mais otimistas. O momento é agora. Você fala como se não tivéssemos condições! Mas na seleção, ninguém tem dúvida.

A Argentina se classifica? O Brasil está no mesmo nível também da República Dominicana e de Porto Rico?
MAGNANO: A Argentina tem muitos atletas da geração dourada e jogará em casa, numa cidade em que o basquete está muito vivo. O Brasil está dentro deste grupo, com a Argentina um pouquinho acima dos demais. Não podemos esquecer o Canadá e a Venezuela. (Os EUA já estão classificados).

Em que condições Luis Scola jogará o Pré-Olímpico (recupera-se de cirurgia no joelho esquerdo)?
MAGNANO: Se for para a quadra, 100%. Certeza! É raçudo. Não há contusão, não há nada.

Vê esta raça no Brasil?
MAGNANO: Temos muitos atletas que gostam de jogar. Esta seleção tem grandes virtudes, mesmo os mais jovens, que são comprometimento e orgulho de vestir a camisa do Brasil.

Quem seria o nosso Scola?
MAGNANO: É difícil destacar só um nome. No Brasil, há muitos meninos que querem estar na seleção, como o Alex Garcia, Marcelinho Machado, Marcelinho Huertas e Guilherme Giovannoni. Há outros, novos, que estou conhecendo agora.

Na Argentina, os jogadores brigam para integrar a seleção. E no Brasil, Nenê e Leandrinho, por exemplo, sempre pedem dispensa. Falta amor à camisa?
MAGNANO: Difícil avaliar porque cada um tem seu mundo, crenças, sentimentos, educação, cultura. Tudo isso resulta numa resposta final. Não há somente um aspecto. E há também escolhas. Não posso responder pelos caras que não querem... Têm seus motivos. Não quer dizer que eu aceite.

As justificativas foram honestas?
MAGNANO: Aí já é outra coisa. Não sei o que eles dizem a vocês. Gostaria que estivessem no grupo, mas não fiquei chateado. O tempo da seleção é curto. Não posso ficar infeliz por quem não veio. Esta energia negativa já mandei pra longe. Meu foco é em quem está aqui. Estamos perdendo muito tempo falando de pessoas que não estão.

Você dorme bem?
MAGNANO: Meus atletas me permitem dormir bem porque sei que estão trabalhando duro. Esta certeza faz com que não me revire na cama. Recentemente, sonhei que estávamos classificados para Londres, todos se cumprimentado na quadra.
O tempo da seleção é curto. Não posso ficar infeliz por quem não veio. Esta energia negativa já mandei pra longe. Meu foco é em quem está aqui. Estamos perdendo tempo falando de pessoas que não estão

Há projetos de naturalização de outros estrangeiros, além do americano Larry?
MAGNANO: O processo está em curso, mas não há outro caso.

Temos deficiência na armação para chamar o Larry?
MAGNANO: O Huertas, o melhor da Espanha, que vai atuar no Barcelona, é o principal. Depois, conforme o adversário, escolho outro. Temos ainda os mais jovens, como o Raulzinho e o Nezinho. O Larry aumentaria nosso potencial. Não era para resolver um problema.

Nos amistosos na Venezuela, você não pôde escalar Splitter (machucado), Huertas (em negociação) e os atletas do Málaga (Augusto, Paulão e Rafael que não estavam com seguros resolvidos). Convocou a seleção há uns 50 dias e a CBB só resolveu a questão dos seguros agora (o de Huertas está em aberto). Por que da demora?
MAGNANO: A CBB fez sua parte. O problema foi do Málaga, que não mandava a documentação. Não é simples. No caso do Huertas, tivemos de esperar ele acertar com o Barcelona porque o seguro será resolvido com o novo clube. Se é que já não resolveu. Isso retardou algumas decisões, mas não atrapalhou.

Explique por que foi especial enfrentar a Argentina no Mundial e também num amistoso, na Espanha (perdeu os dois).
MAGNANO: Não sei onde enquadrar esta sensação, sabe? É estranha. Quantos no mundo viveram isso? Tenho amigos que enfrentaram a Argentina, mas não estavam à frente do Brasil. Estiveram com Cuba, Venezuela e Panamá. Não foi só jogar contra a Argentina, mas contra jogadores e comissão que já dirigi.

São os argentinos que têm inveja dos brasileiros?
Argentino Ruben Magnano, técnico da seleção masculina de basquete - Foto: Michel Filho - O Globo
MAGNANO: Como festejou a Argentina inteira quando o Brasil foi eliminado do Mundial e da Copa América! E o contrário também. Incrível! Eliminações seguidas. Um dia, riu. No outro, chorou. Adoro isso do brasileiro. Falávamos de basquete e chegamos no futebol. O mesmo acontece na política. Tudo acaba em futebol. Esta é uma inveja mista, folclórica, linda, que colore e dá sustância aos jogos.

Para qual time torce? Lá e aqui?
MAGNANO: Você deveria saber! Meu time rebaixou o River Plate, em seu estádio! É o Belgrano, de Córdoba. E podem fazer o que for, está escrito na história! Não tenho time no Brasil! Gosto do meu Belgrano. Mas adorei ver o Corinthians perder do Cruzeiro.

Qual o melhor basquete do mundo?
MAGNANO: NBA é NBA. Mas, pessoalmente, prefiro o europeu. São partidas mais táticas, onde as tomadas de decisões dos jogadores são mais inteligentes. E o jogo é solidário.

Após o nono lugar no Mundial, na Turquia, você admitiu que os brasileiros não sabem decidir.
MAGNANO: Disse que talvez nos falte esta coisa dos boxeadores de nocautear, num único golpe, que nos faltou nos momentos finais em jogos contra os EUA e Argentina. Mas isso acontece.

Como resolver?
MAGNANO: É uma equação matemática que soma formação, hábitos, trabalho do clube e da seleção, ano após ano. O que tenho feito diariamente é nutri-los de confiança para que na hora H não tenham dúvida. Além disso, a confiança tem de vir da qualidade do nosso trabalho. A Argentina foi a primeira a vencer o Dream Team e fomos adiante no Mundial, na casa deles, e depois na conquista do ouro olímpico.

O que lembra de Atenas?
MAGNANO: Ainda não me dei conta que sou campeão olímpico. Quando me aposentar, estiver tranquilo, vou repassar estas coisas na cabeça. Agora não! Como técnico não ganha medalha, guardei a imagem na retina e no coração (fica emocionado). Incrível. O homem mais rico do mundo não pode comprar o que tenho. Somente quatro países foram campeões (EUA, Argentina, Russia, Iugoslávia).

Está morando em São Sebastião do Paraíso (Minas)?
MAGNANO: Minha casa fica a cinco minutos do Centro de Treinamento da CBB. Sou vizinho de um delegado e de um médico. Morei lá uns sete meses com a minha esposa (Patrícia) e ficava muito em função das seleções de base. Tinha pouco tempo para o resto. E também não tinha opção (risos).

Verdade que é o melhor jogador de truco da cidade?
MAGNANO: (risos) Aprendi a jogar com um amigo. Depois que ganhei um torneio, parei de jogar (risos) para manter o título.

Que anel é este? Deve ser mais importante que a aliança...
MAGNANO: (risos) Quando se ganha três vezes seguidas ou cinco no total o nacional na Argentina, o prêmio é este anel, de ouro, com suas iniciais. Fui cinco vezes campeão com o Atenas. E a aliança? Perdi! Mas minha mulher não acredita.

Qual o palpite para os amistosos entre Brasil e Argentina?
MAGNANO: Empate!


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